terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Lei da sobrevivência

Por: Rodrigo Brisolla


As pessoas que fazem jornada dupla possuem boa parte de seus dias ocupados. Esse fato não é nenhuma novidade e essa tarefa também não. Seja por vontade própria ou por necessidade, as pessoas que possuem dois empregos estão em todos os lugares. E grande parte deles revezam os dois empregos entre o dia e a noite. É uma jornada muito cansativa, mas muitos procuram realiza-la com louvor. Estudantes, jovens, mães e pais de família são alguns desses exemplos.

A estudante Renata Nascimento, 23 anos, divide sua vida entre o dia e a noite. No horário ensolarado ela trabalha como vendedora em uma loja de roupas em um shopping badalado do Rio de Janeiro. Depois, ela vai trabalhar em um clube noturno como go-go girl, meninas que ficam dançando em lugares de destaque na boate. Renata comenta que só suporta essa rotina pelo fato de não trabalhar todos os dias na boate. “Sempre antes de ir para a boate, eu tenho um tempo para descansar e realizar outras atividades. O meu horário é bem flexível, nos dias mais puxados, como nos finais de semana, eu entro na loja na parte da tarde. Sem contar que eu não trabalho todos os dias na boate”.

Renata que nasceu no estado de Minas Gerais, veio de Uberlândia para o Rio de Janeiro no ano de 2005 para cursar faculdade de jornalismo. Logo quando chegou à cidade, ela já veio com a missão de trabalhar para ajudar a pagar as contas de seu apartamento. Com um pouco de trabalho e procura, ela conseguiu emprego como vendedora em um outra loja de roupas. Considerada por seu antigo chefe como uma ótima funcionária, Renata não demorou a conseguir um novo emprego, agora na sua loja atual. Porém, o trabalho como go-go girl surgui de surpresa em sua vida. “Quando cheguei aqui no Rio, eu saia muito pra boate, quase todos os dias, gastando um dinheiro que eu não podia. Mas o bom, é que fui fazendo contatos e conhecendo pessoas. Um dia eu estava dançando em uma boate quando um amigo meu que trabalhava lá veio me dizer que eu dançava muito bem, era bonita e daria uma ótima dançarina. No começo eu não aceitei, mas com o tempo ele foi me mostrando o trabalho e foi tirando todas os preconceitos que eu tinha em minha cabeça.”

No início do trabalho na boate, a jovem conta que sofreu alguns preconceitos na faculdade e de alguns conhecidos. “Um monte de gente achava que eu estava virando garota de programa! Me olhavam estranho e até chegaram a me ofender verbalmente. Hoje em dia, eu nem ligo, quem me conhece sabe que o trabalho é honesto, quem pensa o contrário eu nem dou idéia.”

A jornada dupla ajudou Renata a pagar suas contas e se manter na cidade sem o sustento dos pais. Porém, a sua sonhada faculdade de jornalismo teve que ser interrompida. Os dois empregos em horários diferentes atrapalharam sua vida acadêmica. “Chegou uma hora que eu não aguentava mais, não tinha mais tempo para estudar, estava reprovando em várias matérias. Tive que fazer uma escolha na minha vida e decidi trancar a faculdade e ficar com os dois trabalhos. E por trabalhar com o público, sou muito conhecida e espero que isso sempre me ajude a conseguir outros trabalhos. Mas na próxima oportunidade que eu tiver, eu vou continuar com a faculdade.”
(*) Vídeo ilustrativo retirado da internet. Apenas para mostrar o trabalho de uma go-go girl.
Outro exemplo de pessoa que vive entre o dia e a noite é o jovem Rodrigo Gonçalves. Com 26 anos, ele trabalha na padaria do seu pai de dia e de noite ele é caixa de um outra boate no Rio. Ele conta que o trabalho na padaria já é uma função de família. “Ajudo na padaria desde sempre, acho que desde que me conheço por gente. Mas não ganho nenhum salário com isso. Só ajudo o meu pai a economizar com funcionário e a trazer mais dinheiro para nossa casa, pois meus pais ainda são minha fonte de renda principal. Quanto mais dinheiro eu ajudar o meu pai ganhar, mais dinheiro ele vai ter disponível para me dar. Eu ajudo todo mundo e me ajudo também”.

Rodrigo em sua rotina de trabalho
Já o trabalho de caixa na boate, o Rodrigo não foi tão sortudo quanto a Renata. Ele teve que conseguir sozinho, entregando currículo em todos os lugares em que ele pudesse imaginar. “No começo, pensei em ser algo de comércio mesmo, trabalhar como garçom na noite, caixa de boate, um monte de coisa. Acabei ficando com a primeira opção que me apareceu, mas eu acabei gostando”.

Rodrigo completa dizendo que o trabalho na noite
é muito mais complicado do que os outros, pois nele, você lida com o público e os frequentadores da noite podem ser bem problemáticos. “Precisa

muita paciência para aguentar gente bêbada, querendo arrumar confusão. Na noite tem de tudo. Temos muitas situações engraçadas também. Acho que na noite o povo se solta mais, toda a tensão do trabalho do dia-a-dia é descarregada na boate, as vezes, acho que até de mais.”

Seja trabalhando com um, dois, três empregos, o importante é alcançar o seu objetivo. Se é o que a pessoa deseja e se ela aguenta a pressão, nenhuma problema. Conforme os anos vão passando, as pessoas vão ficando casa vez mais multifuncionais, trabalhando mais e descansando menos. A tecnologia é uma que não deixa as pessoas descansarem, acaba deixando-as muito mais conectadas, exigindo um completo jogo de cintura, como essas pessoas nos mostraram.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Da Fiorentina aos Cisnes

Por Tammy Freitas

O auxiliar administrativo Damião Carvalho da Silva, 39, se divide em dois empregos para sustentar sua família. Durante o dia ele trabalha no restaurante La Fiorentina, em Copacabana, cuidando do almoxarifado, fazendo pedidos de produtos, e executando outros trabalhos burocráticos. “Chego aqui no Fiorentina 8h, abro o restaurante e aí não param de chegar fornecedores que eu tenho que receber para decidir qual oferece a melhor opção de produto. Porque não adianta só ser barato, também tem que ser bom!” afirma Damião.

Foto: Arquivo Pessoal/ Damião Carvalho


Nos finais de semana Damião trabalha de garçom em diversas festas pelo Rio de Janeiro, em algumas festas é ele quem ornamenta as mesas de frios, fazendo verdadeiras esculturas com as frutas, quando é preciso ele também trabalha como maitrê para ganhar um pouco mais de dinheiro. Uma das especialidades dele é o cisne feito de melão, sempre que ele faz a escultura no melão recebe elogios de todos.


Cisne feito com melão por Damião para uma festa particular

Em algumas festas Damião leva a esposa para trabalhar na cozinha fritando salgadinhos e lavando as louças da festa. “Sempre que dá eu trago a Márcia [esposa dele] pra trabalhar, pelo menos dá pra pagar alguma conta com o dinheiro que ela ganha.”

Foto: Arquivo Pessoal/ Damião Carvalho

Damião conta que já teve a oportunidade de conhecer pessoas famosas nas festas onde trabalha, entre elas a dançarina Graciane Barbosa, as atrizes Tônia Carrero, Maitê Proença e Ana Paula Arósio, mas ele se orgulha mesmo é de ter conhecido o Ministro das Comunicações Hélio Costa. “ O ministro é muito simpático, gosta de comer coisas simples, foi muito bom trabalhar pra ele”.

Com o seu salário fixo e os “bicos” em festas, Damião consegue manter dois filhos em escolas particulares o que segundo ele é uma honra investir na educação dos filhos, que ele deseja

Copeira Regina Silva, Damião Carvalho e a esposa Márcia Dias


que tenha um futuro mais estável do que ele tem. "Quero dar pros meus filhos uma educação que eu não tive, quero que eles façam faculdade e sejam alguém na vida.”

Foto: Arquivo Pessoal/ Damião carvalho

Damião Carvalho com o Ministro das comunicações Hélio Costa

Nos finais de semana a rotina de Damião é mais difícil, a correria começa na sexta-feira, ele chega cedo no restaurante pra trabalhar, sai por volta das 19h e muitas vezes ele vai em casa apenas tomar banho e trocar de roupas e vai para alguma festa que pode ser na Barra, em Madureira ou Copacabana (bairros onde Damião geralmente trabalha com festas). “Pior é quando a festa é na Barra porque lá é muito longe, que eu moro em Caxias demoro muito tempo pra chegar nas festas de lá.”

Damião é um exemplo do trabalhador brasileiro que muitas vezes tem que trabalhar em mais de dois empregos para conseguir o sustento da família e ter uma vida digna, pagando por serviços que deveriam ser providos pelo governo (saúde, segurança).

De corretor à taxista

Por Rodrigo Monteiro


Foto:Rodrigo Monteiro
Às 18 hs, a maioria dos trabalhadores já se prepara para ir embora para casa e ter seu merecido descanso e recarregar as energias para o dia seguinte. Mas para o corretor de imóveis Otacílio Marques, de 51 anos, o caminho ainda é longo e enquanto a maioria dos seus colegas volta pra casa, ele ainda tem gás para trabalhar mais algumas horas no seu táxi. “Trabalho como corretor há mais de dez anos, mas para aumentar a renda da família optei por encarar mais algumas horas no táxi”, declara o corretor.

Com o veículo próprio, ele tem a vantagem de fazer seu horário. Normalmente trabalha logo após o expediente em uma imobiliária da Tijuca e costuma rodar de sete a oito horas por dia em seu Corsa Sedan ano 2000. “Às vezes é cansativo, mas gosto de dirigir e principalmente conhecer os diferentes tipos de pessoas que entram no meu carro. Nestes três anos de taxista, já tenho muitas histórias pra contar para os meus netos”, brinca Otacílio. E o descanso? “Durmo de quatro a cinco horas por dia e me sinto muito bem. No escritório, o trabalho burocrático e as avaliações dos imóveis me consomem muito, mas é no táxi que consigo relaxar um pouco, mesmo porque não tem trânsito de madrugada”.

Outro exemplo de dupla jornada é o do vendedor Jorge Luiz, de 29 anos. Morador de Nova Iguaçu, ele vende tapioca no Centro do Rio de janeiro e à noite, deixa a barraca aos cuidados de sua esposa e vira guardador de carros ao lado da Universidade Estácio de Sá, também no centro, que não possui estacionamento para professores e alunos. “Trabalho o dia inteiro na barraca e à noite vou olhar os carros da faculdade. Nunca tive problemas, cuido muito bem dos carros e os alunos já me conhecem. Recebo boas gorjetas”, diz o vendedor.

Jorge faz questão de dizer que nunca conseguiria sem o apoio de seus familiares e amigos. Ele precisa do auxílio de sua mulher para ajuda-lo nas vendas enquanto busca uns trocados a mais nas ruas. “Durante o dia, minha esposa cuida da criança e à noite vem me substituir aqui na barraca. Aí passo a noite toda na rua cuidando dos carros até o final do movimento. No final de semana armamos a barraca na pracinha perto de casa. Trabalhar não é problema, desde pequeno eu sustento minha família”.

Otacílio e Jorge são dois exemplos de pessoas batalhadoras, que trabalham por conta própria, tem dois empregos e seguem lutando por uma vida melhor para suas famílias.

Fazendo Música Direito

Por Hortênsia Ferreira



No Brasil, podemos dizer que está sendo comum as pessoas obterem dois empregos. A renda familiar cresce vantajosamente, ajudando nas despeças e contas extras. O duplo emprego foi à forma que o brasileiro achou para não ficar no vermelho durante o ano. No início, seria um emprego extra para alguns, porém com o tempo ele pode passar a ser fixo também. Com o passar do tempo, aquele dinheiro extra, por exemplo, virou uma renda fixa, dando um dinheirinho a mais no final do mês.
Banda Senvscritcvs
O advogado Carmelo Tamburello Junior seria um dos brasileiros, que consegue conciliar dois empregos há alguns anos. Exerce a advocacia há cinco anos e há doze anos é guitarrista. No momento, ele toca na Banda Sensvscriticvs. Na advocacia, Carmelo efetua elaboração de defesa e pareceres jurídicos. Já na música, participa de arranjos das músicas e das gravações. Para ele não existe problema em conciliar os dois empregos, pois como advogado tem uma jornada de trabalho de oito horas diárias e como músico se apresenta esporadicamente em horários noturnos, não há uma agenda fixa. Já os ensaios da banda são flexíveis e também noturnos.

No caso do advogado e músico, sua jornada com os dois trabalhos, se tornou dupla por opção. A música ele define como sua maior satisfação: “Quando estou tocando é como se estivesse me desligando do mundo”. Na área jurídica se identificou por tratar de ciências não exatas, onde existem correntes doutrinárias com opiniões divergentes. Carmelo citou as vantagens do duplo emprego: “Ter dois empregos é exercer duas atividades distintas e obter uma remuneração um pouco melhor”. As desvantagens seria a falta de tempo para o lazer pessoal. Porém, no seu caso a satisfação é notoriamente excelente em sua vida. Hoje podemos dizer que o duplo emprego se tornou comum na vida do brasileiro e sempre satisfatório na renda salarial do mês.